Casa de Rachel de Queiroz permanece com
sinais de abandono
Casa onde morou a escritora cearense permanece com sinais
de abandono nove anos após tombamento definitivo.
Os benjamins dão boas vindas.
Estão ali, dizem, há mais de cem anos, antes mesmo da casa de alpendres e
quintal ser considerada um espaço de preservação e memória. Por lá, sob uma
brisa parecida com a que corre agora, a escritora Rachel de Queiroz fez a
passagem da juventude para a fase adulta. No chão da Casa dos Benjamins, com
suspeita de tuberculose, escreveu a primeira e a mais emblemática de sua obras:
O Quinze (1930). Mas a casa não permanece a mesma, embora ainda preserve o ar
do passado.
Sobre o assunto
Sem manutenção, a Casa de Rachel
de Queiroz se esvai como o tempo que carrega. As paredes descascam, o forro de
gesso já caiu em boa parte do cômodo principal, as telhas - ainda da época de
construção, pela década de 1920 - desgastam-se sem manutenção. Como vestígios,
permanecem a porta de madeira, as janelas, as paredes grossas de alvenaria.
Tombada definitivamente pela
Prefeitura de Fortaleza desde o dia 22 de outubro de 2009, a Casa onde a menina
Rachel de Queiroz se fez escritora continua sem reformas ou atividades que
garantam a sua importância para a Cultura do município. É também invisível para
os do bairro. “Já andou um pessoal da Prefeitura, acho que na época do
tombamento, mas de lá para cá nunca mais”, discorre uma das moradoras do local,
que preferiu não se identificar.
Ela chegou por lá em 1979, junto
com outra família que teve a moradia cedida pelo proprietário da casa,
posterior à saída da família de Rachel de Queiroz. “Aqui era uma chácara, não
tinha as casas em volta. Meu pai trabalhava para o dono dessa casa, que deixou
que a gente morasse aqui sem pagar aluguel”. É assim até hoje.
Por falta de condição e até por
medo de descaracterizar a estrutura tombada, as manutenções quase nunca
acontecem. No máximo, uma pintura das paredes com cal. Ou da vez que o telhado
do alpendre caiu e eles tiveram que recompor.
“A gente sabe que não pode mexer,
colocar ou tirar parede. Mas a gente sabe também que a casa é antiga e grande,
precisaria de um cuidado melhor”, admite a moradora, assegurando que não se
oporia a sair da casa, desde que lhe garantissem indenização pelo tempo de
estada. “O bairro aqui está se valorizando. Um museu, por exemplo, podia ser
uma ideia legal para os jovens daqui”, pincela.
À época do estudos de tombamento,
ainda em 2006, a Prefeitura de Fortaleza chegou a manifestar interesse de
comprar o imóvel e transformá-lo em uma biblioteca. Nove anos depois, nada foi
para frente e a condição do lugar, que já apresentava sinais de abandono, só
piorou.
Por email, o coordenador do
Patrimônio Histórico Cultural da Secretaria da Cultura de Fortaleza
(Secultfor), João Francisco do Nascimento, disse que o projeto não vingou
porque a casa continuou sendo de propriedade privada. Ele, no entanto, não
explicou quais foram os entraves para a compra do equipamento.
O coordenador escreveu ainda que
o bom estado de conservação de um bem tombado é de responsabilidade do
proprietário do imóvel. É ele, o dono, que deve informar qualquer “ameaça à
integridade” do local. “Neste sentido, a Secultfor não foi notificada acerca de
nenhuma iniciativa, nem denúncia, do proprietário”, escreveu.
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