segunda-feira, 20 de março de 2017

NÃO É 'PRIVILÉGIO' APENSA DO GUAPORÉ... LAMENTÁVEL, LÁ E CÁ!!

Casa de Rachel de Queiroz permanece com sinais de abandono

Casa onde morou a escritora cearense permanece com sinais de abandono nove anos após tombamento definitivo.

Os benjamins dão boas vindas. Estão ali, dizem, há mais de cem anos, antes mesmo da casa de alpendres e quintal ser considerada um espaço de preservação e memória. Por lá, sob uma brisa parecida com a que corre agora, a escritora Rachel de Queiroz fez a passagem da juventude para a fase adulta. No chão da Casa dos Benjamins, com suspeita de tuberculose, escreveu a primeira e a mais emblemática de sua obras: O Quinze (1930). Mas a casa não permanece a mesma, embora ainda preserve o ar do passado.

Sobre o assunto

Sem manutenção, a Casa de Rachel de Queiroz se esvai como o tempo que carrega. As paredes descascam, o forro de gesso já caiu em boa parte do cômodo principal, as telhas - ainda da época de construção, pela década de 1920 - desgastam-se sem manutenção. Como vestígios, permanecem a porta de madeira, as janelas, as paredes grossas de alvenaria.
Tombada definitivamente pela Prefeitura de Fortaleza desde o dia 22 de outubro de 2009, a Casa onde a menina Rachel de Queiroz se fez escritora continua sem reformas ou atividades que garantam a sua importância para a Cultura do município. É também invisível para os do bairro. “Já andou um pessoal da Prefeitura, acho que na época do tombamento, mas de lá para cá nunca mais”, discorre uma das moradoras do local, que preferiu não se identificar.
Ela chegou por lá em 1979, junto com outra família que teve a moradia cedida pelo proprietário da casa, posterior à saída da família de Rachel de Queiroz. “Aqui era uma chácara, não tinha as casas em volta. Meu pai trabalhava para o dono dessa casa, que deixou que a gente morasse aqui sem pagar aluguel”. É assim até hoje.
Por falta de condição e até por medo de descaracterizar a estrutura tombada, as manutenções quase nunca acontecem. No máximo, uma pintura das paredes com cal. Ou da vez que o telhado do alpendre caiu e eles tiveram que recompor.
“A gente sabe que não pode mexer, colocar ou tirar parede. Mas a gente sabe também que a casa é antiga e grande, precisaria de um cuidado melhor”, admite a moradora, assegurando que não se oporia a sair da casa, desde que lhe garantissem indenização pelo tempo de estada. “O bairro aqui está se valorizando. Um museu, por exemplo, podia ser uma ideia legal para os jovens daqui”, pincela.
À época do estudos de tombamento, ainda em 2006, a Prefeitura de Fortaleza chegou a manifestar interesse de comprar o imóvel e transformá-lo em uma biblioteca. Nove anos depois, nada foi para frente e a condição do lugar, que já apresentava sinais de abandono, só piorou.
Por email, o coordenador do Patrimônio Histórico Cultural da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), João Francisco do Nascimento, disse que o projeto não vingou porque a casa continuou sendo de propriedade privada. Ele, no entanto, não explicou quais foram os entraves para a compra do equipamento.
O coordenador escreveu ainda que o bom estado de conservação de um bem tombado é de responsabilidade do proprietário do imóvel. É ele, o dono, que deve informar qualquer “ameaça à integridade” do local. “Neste sentido, a Secultfor não foi notificada acerca de nenhuma iniciativa, nem denúncia, do proprietário”, escreveu.

 

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